Os outros trazem alguns retratos nossos...

Por inúmeras vezes pude contemplar "minha vida" em canções de quem se quer sabe que existo, em palavras de quem está ao meu lado, mas não me conhece. Melodias, textos, roteiros, expressões das mais espontâneas já me disseram tanto sobre mim e traduziram tão bem realidades extremamente particulares, daquelas singulares mesmo, que cabem a nós e a quem íntima e essencialmente nos conhece. Partindo dos frutos destas minhas maravilhosas experiências de identificação, desejo que outros provem desta graça através de minha vida.

De fato, os outros podem trazer - e trazem - alguns retratos nossos...

Abraço fraterno,

Shalom a vós!!!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Henrique! Henrique do brilho nos olhos...

Domingo, 14/12/2014, aeroporto de Congonhas em São Paulo - SP. 
Estava esperando o ônibus que faria o trajeto até Campinas, de onde sairia o meu voo. Sentia uma inquietação sem fim, como ainda faltava mais de 30 min para o horário de partida do ônibus, resolvi ir tomar um café pra ver se melhorava a estranha sensação. Peguei meu pedido e fui me sentar. Um pouco depois, tentando pedir algo para um outra moça, vi um menino, um adolescente, morador de rua, evidentemente. Não eram 06h ainda, cedo demais para, em pleno domingo, um menino estar por aí sozinho. Fiquei observando como fora tratado, me apertou o peito aquela cena que deve ter durado uns 2 minutos e me encheu de questionamentos e perguntas e umas poucas respostas, como uma colocação de 2h de alguém muito sábio. Me levantei, fui até ele e perguntei se estava com fome e se aceitava um lanche, a resposta com sorriso largo: "Sério? Daquele alí?", sorri e disse que sim com a cabeça. Comprei algo e pedi que ele se sentasse comigo. Ele hesitou muito, mas insisti e ele veio. Disse que os funcionários da lanchonete poderiam brigar com ele, por isso ele estava sentado no cantinho, aonde não conseguiam vê-lo. Tinham algumas pessoas por perto, me lembro de um rapaz que nos olhou, levantou-se e mudou de lugar. Que pena! Se tivesse ficado mais perto talvez teria enxergado o brilho nos olhos do meu novo amigo. Brilho esse que não vou esquecer nunca! 
Henrique tem 15 anos, disse que mora no aeroporto desde os 13, me contou com muita naturalidade a sua história, com muitos fatos em comum com outros inúmeros relatos de crianças e adultos na mesma circunstância social. O que me fascinou nele foi, como diz o título deste relato, o brilho nos olhos dele. Nem a roupa suja, tão suja quanto o desdém com que a sociedade o trata e trata a tantos outros. Nem o cheiro, que não era pior que o mal cheiro da indiferença e falsa superioridade a que somos levados pelos padrões e as posses. O BRILHO NOS OLHOS! O brilho nos olhos dele!
Eu tinha acabado de chegar de um show, uma missão com o Levada do Alto. Sinceramente, não estava numa noite de grande entusiasmo, cansada e um pouco deslocada por algumas questões pessoais. Tivemos algumas dificuldades com limitações técnicas e humanas nesse show, mas deu certo. Vivemos na alegria de estarmos juntos e de olhares que se compreendem a missão de evangelizar os jovens. Depois do show, me deixaram no aeroporto e foram embora.
Lá, sentada com o Henrique, então, me lembrei de algo que tinha pedido a Deus enquanto entregávamos nossa viagem até o local do evento e toda aquela madrugada de evangelização. Me lembro de ter pedido forças a Deus e a graça de provar de uma novidade na experiência com Ele e com a missão. Foi uma oração breve, muito simples, muito sincera também. Enquanto estava ali com o meu novo amigo, o ouvia falar de como eram os seus dias morando ali e respondia algumas perguntas sobre a minha vida e o meu trabalho, encontrei uma grande resposta para minha breve oração da noite anterior: o que é a missão, senão o dispor de si para a vivência da vontade de Deus? Bendita inquietação que me fez desviar do meu caminho, parar para um café e me encontrar com Jesus! Sim! Para mim o que aconteceu foi exatamente isso: me encontrei com Jesus Pobre ali! Tomamos café, partilhamos o pão e a vida, rimos, conversamos muito e ele ainda me acompanhou até o ponto depois. Ah, sim! Desisti de ir pra Campinas, tive certeza de que o que precisava viver era aquilo ali, aquela experiência. A inquietação desapareceu, ficou o sono, o cansaço e uma alegria sem fim. Do Henrique precisei me despedir, mas das marcas que ele deixou na minha vida, espero não me esquecer jamais!
Certamente o meu Natal e a minha vida, foram salvos pela partilha de um pobre que sem pensar no amanhã busca viver o hoje com a simplicidade de quem não tem, talvez, a ciência, mas a consciência de que o que temos é o hoje e precisamos saber vivê-lo. Espero encontrá-lo outra vez ainda e tê-lo feito algum bem, ainda que o que ele me fez tenha sido infinitamente maior. É só o que fica no fim da vida: o que de bem fizemos aos outros.
Não conseguimos fazer uma selfie, mas não esquecerei do rosto do meu amigo Henrique. Embora quisesse poder partilhar com vocês daquele brilho nos olhos, coisa de gente pura, de gente de bem. Não sei se ele algum dia vai ler isso aqui, é provável que não, mas mesmo assim, vou dizer: muito obrigada meu amigo! Acredito que, algumas vezes, Jesus nos aparece na vida, encontrei Ele nos seus olhos e no seu sorriso.


Que venha o Natal e que o Menino Jesus aceite nascer na pobreza do meu coração tão rico de falsos bens...

Feliz, Santo e Verdadeiro Natal! SHALOM!

Ah... Esteja atento! Pode ser que você também receba uma visitinha... rs

 

2 comentários:

  1. Obrigada pela partilha e por nos dá a chance de também procurar um sentido diferente neste Natal.

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    1. Ooo Manu... Obrigada por acolher a minha partilha! Vale à pena estar atento! Oportunidades, nós sempre temos, né?! Beijo.

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