Os outros trazem alguns retratos nossos...

Por inúmeras vezes pude contemplar "minha vida" em canções de quem se quer sabe que existo, em palavras de quem está ao meu lado, mas não me conhece. Melodias, textos, roteiros, expressões das mais espontâneas já me disseram tanto sobre mim e traduziram tão bem realidades extremamente particulares, daquelas singulares mesmo, que cabem a nós e a quem íntima e essencialmente nos conhece. Partindo dos frutos destas minhas maravilhosas experiências de identificação, desejo que outros provem desta graça através de minha vida.

De fato, os outros podem trazer - e trazem - alguns retratos nossos...

Abraço fraterno,

Shalom a vós!!!


terça-feira, 26 de julho de 2011

Palavras, costumes e amor - Ressignificando o cotidiano

Não temo que as palavras diminuam, temo que elas se acabem, se esgotem... As palavras limitam em expressões insaciáveis de uma vida, de um sentimento, de experiências intensas demais para serem descritas com exatidão. As palavras limitam, mas ainda assim expressam, dão margem, direção, apontam o que é e vai além do que, simplesmente, se vê. Eu temo sim o costume, mais do que a ausência das palavras, porque o silêncio pode dizer muitas coisas, ser fecundo, cheio de respostas, ou abrigar a necessidade de calar-se para ser capaz de amar de verdade, mais e melhor. O costume ao qual me refiro, é o primeiro passo para perder o encanto, a capacidade de encantar-se, a competência de contemplar o belo, o outro, de descobrí-lo, de amá-lo. O costume não permite amar, nem ser amado! O costume em ouvir as palavras que, por serem limitadas, se repetem por algumas, muitas vezes ou por toda a vida, faz com que estas não tenham seu sentido, significado e intensidade atualizados. É não saber que o "eu te amo" de hoje, é diferente do de ontem, é mais maduro, é mais provado, mais doído, mais autêntico... O homem está sempre em processo de crescimento. A vida é um ciclo em constante mudança, um processo de maturação e descobertas sobre si, sobre o Amor e o outro, que se estenderá até o último suspiro do ser vivente. Para o coração que ama é necessária a clareza de que se pode amar mais, de que o amor não é findado, não é mensurável, não é perfeitamente exprimível. É uma grande tolice permitir que aconteça com os gestos simples do cotidiano, como chegar em casa e encontrar tudo arrumado, a comida pronta, a roupa bem cuidada, perfumada e passadinha, e não perceber quanto amor há alí, talvez o amor da mãe, o cuidado da avó, ou a atenção e dedicação de uma pessoa que fora contratada para isto! Se não estou equivocada, Heráclito dizia que "um mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio duas vezes", e nesta citação ele se referia, de forma brilhante, diga-se de passagem, ao fato de que estamos em "processo de feitura"! Mesmo que o homem voltasse a atravessar o rio, este já não seria "o mesmo" por estar sempre em movimento, e nem o homem poderia ser "o mesmo", pois já teria mais experiência, já estaria mais velho, ainda que poucos minutos ou algumas horas, já teria experimentado de outras sensações, outros pensamentos já lhe teriam ocorrido como a água do rio que corre. Saber o valor das palavras ditas e/ou não ditas, é como ter acordado pela manhã e já se deparado com a mesa posta, o café fresquinho e quente a lhe esperar, por toda a vida e um dia, ao acordar, ver que a mesa está vazia, o café não está pronto e lembrar-se com saudades do tempo que hoje é passado, só então, muitas vezes, é possível saber o valor das palavras contidas no gesto silencioso de tantos anos, nas palavras não ditas repetidas por tantas e tantas vezes... Saber o valor das palavras ditas e/ou não ditas, é como passear durante uma noite de céu deslumbrante e não notar o amor que há naquela quietude, no brilho das estrelas ou na majestade de uma lua cheia, é não saber que tudo isto fora preparado pelo Amor...

Quero amar sem costumes sempre! Quero ser sempre surpreendida pela novidade do Amor e do amar. Gostaria de ser capaz de expressar de formas diferentes, caso não consiga palavras melhores e mais adequadas, não me fartarei em dizer um "eu te amo" cá e outro lá, aos meus amados, sempre que me for oportuno!

Shalom!!!