Os outros trazem alguns retratos nossos...

Por inúmeras vezes pude contemplar "minha vida" em canções de quem se quer sabe que existo, em palavras de quem está ao meu lado, mas não me conhece. Melodias, textos, roteiros, expressões das mais espontâneas já me disseram tanto sobre mim e traduziram tão bem realidades extremamente particulares, daquelas singulares mesmo, que cabem a nós e a quem íntima e essencialmente nos conhece. Partindo dos frutos destas minhas maravilhosas experiências de identificação, desejo que outros provem desta graça através de minha vida.

De fato, os outros podem trazer - e trazem - alguns retratos nossos...

Abraço fraterno,

Shalom a vós!!!


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Caminhos, estradas e lugar algum

Sempre achei que um caminho deveria levar a algum lugar, sempre achei também que uma estrada sempre chega a um determinado fim. Mas o que hoje vejo é que talvez o caminho seja tão longo que pareça não chegar nunca ao seu final e que as estradas muitas vezes mudam de nome, cortam cidades, estados e regiões inteiras apenas mudando ou não a paisagem e quilometragem, por vezes até o nome. Mas, nada mais é do que a mesma estrada em outro tempo e lugar. Parece que não se chega a lugar algum, olhando daqui. O horizonte é tão cheio do cinza cercado por uma paisagem "vazia", inabitada. Quando não, o que vejo é uma areia fina, aparentemente quente, um amarelo que cansa a vista e testa a esperança. Quando olho para trás, para um passado próximo e, de certa forma, ainda presente, vejo um caminho que há tempos começou e ainda não chegou a lugar algum, vejo uma estrada em que muito andei, vejo sim - e sinto - os "pés cansados" da longa caminhada. Vejo as marcas das "duras pedras" já pisadas, sinto as dores que me causaram. Já ouvi outros cantarem dores semelhantes, já cantei, já ouvi sem cantar, apenas tentando absorver, aprender e compreender. Quando me cansei de andar pela estrada, talvez por conta do cinza que desagrada os olhos e entristece o coração de quem gostaria de ter experiências alegres e cheias de vida, andei pela areia fina, é realmente quente, embora não se veja o sol daqui, o calor é intenso e exigente. A estrada cinzenta ficou de lado, até mesmo para trás, resolvi esquecer o "adiante" e percorrer um pouco mais em outra direção, na tentativa de encontrar algo que "valesse à pena", que, ao menos, parecesse mais agradável aos olhos e coração. Nada é novo e mais bonito por aqui, embora tenha visto umas pequenas plantas que, persistentes e resistentes, sobrevivem de forma incrível. Encontrar esses pequenos sinais de vida, de forma suave, amenizaram o amarelo desértico e desanimador e me fizeram pensar que havia motivo para lutar, para persistir. Haveria uma razão para percorrer aquele caminho, para andar por aquela estrada. Haveria um sentido, embora não o conhecesse, pude pensar novamente que um dia o horizonte não seria mais cinza-tristonho ou amarelo-desesperançoso, pude pensar e até sonhar que "entraria no mar" ou correria por algum lindo jardim, cheio de lindas flores, árvores, que voltaria a algum lugar depois de tudo alí. Que encontraria e reencontraria lindos rostos, felizes existências e com eles seria, também eu, feliz. Foi assim que resolvi voltar à estrada, desejando percorrê-la com a lembrança das persistentes e resistentes plantinhas que me ajudaram a ver além do que era pálido, sem beleza e até mesmo ofensivo e/ou desagradável e sofrido.. As plantinhas não eram bonitas, mas, mesmo em meio à tanta secura, havia vida nelas, uma vida de quem sabe beber quando é tempo de beber e sobreviver quando é tempo de secura e solidão. Espero que a lembrança dessas plantinhas me ajudem a reencontrar a estrada e a retomar o "adiante" deixado de lado outrora.