Confesso que busquei um "tema", um pretexto para escrever e expressar-me, mas foi difícil encontrar o que de dentro de mim está em tempo de ser partilhado, o que pode ser colhido por estar maduro, como uma árvore que nos oferece do banquete de seus frutos quando em tempo de colheita. O que posso "oferecer-vos" hoje - nesta colheita - é a verdade do fruto de minha árvore: minha reflexão sobre amar.
Desde ontem venho pensando, de forma muito intensa, no quanto não tenho gastado tempo com o que me é precioso, lembrei-me logo de Antoine de Saint-Exulpery (autor de "O Pequeno Príncipe"), que nesta mesma obra trata com sabedoria e amor do sobre o que é cativar, do processo, da espera, do "cultivo", suas belezas e conseqüências. Lembrava-me ainda, de um sábio sacerdote, que em certa pregação citou a abelha que detém-se em produzir o mel mesmo podendo voar, mesmo podendo desfrutar de paisagens, da livre sensação de pelo ar "passear" ela faz a opção de gastar seu tempo de flor em flor, de se demorar para produzir a partir dali o doce mel - não por ter consciência - mas por instintivamente perceber na demora de cada flor, e na produção do mel a sacralidade de sua vida, aquilo para o qual verdadeiramente existe.
Reflito, no quão pouco tenho me demorado na sacralidade da minha vida, em como tenho voado sem rumo, deixando a vida passar e perdido a verdadeira razão para existir! Preciso, voltar... Não posso ter o jardim inteiro, mas tenho as flores do meu hoje, de minhas opções, de meus amores, de meus tesouros, as flores que requerem de mim a dedicação em cuidar e abdicação do vôo lícito mas não-sacro. Se gastar tempo faz ser sagrado, logo se não gasto tempo permito que seja profano o que outrora foi sagrado, permito que se perca em meio ao que é supérfluo, permito que tenha valor de nada aquilo que muito vale!
A vida sem a experiência do amor é vazia, é desencontrada, é profana, está fora da "atmosfera do que é sagrado", diz o sacerdote. Não quero viver assim, sem motivos de SER e VIVER! Reconheço em mim a essência do Amor, essência do mel de amar, via única, perfeita e certa para o próprio Amor.
Não cabem mais palavras, mas cabe o desejo de correr o risco de me demorar!
"Amar é correr riscos sempre" (Ziza Fernandes)